domingo, 29 de abril de 2007

Luz da Sabedoria / Coisas sem sentido


Coisas sem sentido
Vasco Carvalho

Coisas sem sentido:
O Universo sem infinito,
Uma revolução sem um grito,
Mesmo que seja interior
Sem pudor e sem tumor.

São apenas dois
Estes exemplos de coisas sem sentido
E para saber isto
Não é preciso ter o ouvido desentupido,
Pois isto lê-se quando é escrito.
Até em Braille para os cegos
E escusam de ficarem presos nos vossos egos
Ler é também aprender
E se há gente que pensa que sabe
Que tudo sabe engana-se,
E por se enganar esta raiva
De dentro de mim emana-se.

E essa é mais uma coisa sem sentido
Pensar que se sabe tudo sobre tudo
E quando se engana faz-se de querido
E mete o rabo entre as pernas.

É suposto o mundo não fazer sentido,
Pois no dia em que fizer é porque sabemos tudo.

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quarta-feira, 18 de abril de 2007

Desenho de cara / Fome

Fome
Vasco Carvalho

Cara Fria, cara magra,
Cara de quem passa fome.
Se tem fome não come.
Se não come não vive.
Se não vive some.
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quarta-feira, 11 de abril de 2007

Lógica / Palpar o Impalpavél


Palpar o Impalpável
Vasco Carvalho

A mestre das ciências é a matemática
E a matemática é a mais abstracta.
Ora, não é a ciência que trata da existência,
Do ser de existir ou não pretende ser?

Não tenho paciência.
Muito menos para o abstracto,
Muito menos agora!
Quero ver as coisas como elas são
Sem impacto.

Afinal os números não existem,
Não são matéria, nem energia
E há quem diga que é como magia.
E eu só queria dormir em paz um dia.
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quarta-feira, 4 de abril de 2007

Passo a Passo / Rei da inocência


Rei da inocência
Vasco Carvalho

Parto para a viagem,
Para longe de casa,
Para outra paragem,
Para longe destes problemas,
Para mais perto de outros problemas.

Sinto-me feliz
E cheio de liberdade,
Como um petiz
De tenra idade
E muita inocência
Que lhe dá felicidade.

Mas esta minha liberdade
Não vem da inocência
Porque até sou um rapaz de cidade
E para a inocência,
Às vezes não há paciência!

Não há mas devia haver,
Porque ser inocente é ser Rei
E ser dono do que se quer,
Tudo a fugir a lei
Mas não há cá criminalidade para ninguém!
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terça-feira, 3 de abril de 2007

Vista desfonada e nocturna do Cais do Cais-do-Sodré / Más Visões




Más Visões
Vasco Carvalho

Que diferença fazem uns óculos.
Basta pô-los na cara
E vêm-se muitos mais pormenores
Como o preço de uma casa cara
No alto duma janela fechada com estores.

Detalhes que não se viam.
Dantes era tudo turvo e depois,
Com a lentes limpas,
Palavras que não se liam
Já nem precisam de o fazer.

Fica tudo tão claro
E reparo que, mesmo assim,
Há momentos em que mais vale
Não ter óculos para não ver.

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segunda-feira, 2 de abril de 2007

Muralha / Eu Perdoo


Eu Perdoo
Vasco Carvalho

Pede desculpa.
Magoas-te me, sabias?
Parece que não sabes
Nem pensas-te que podias
Como se o que tu sentes
Fosse mais importante
Do que “aquilo-que-achas-que-eu-sinto” por ti.
Isso, para mim, não é amizade.

Define-me amizade.
Pesquisa sobre o tema
Tal como eu fiz para saber
Se podia dizer que estava a sofrer
Ou se devia calar-me e massacrar-me.
Depois percebe porque me dói.

Pede desculpa
Que eu perdoo.
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Estranho / Estranho




Estranho
Vasco Carvalho

O que é que é estranho?
Tudo, para mim.
Só por ser castanho,
Amarelo ou anil,
Ser quadrado
Ou ter a forma de um funil.

Mas o que é que é normal?
Nada o é!
É tudo anormal.
Isso é que é!

Até a física se confunde
Com coisas que parecem normais
Como gelo que se funde
Em bebidas tais.

Até isso é estranho…

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