terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Nuvens Pintadas de Arco-Íris / Dar Amor


Dar Amor
Vasco Carvalho


Quem dorme para a vida
Vive para a morte,
E quem sonha acordado,
Se morrer, tem pouca sorte.

Felizes aqueles que vivem
Para viver mais e mais.
E vivem dando espaço no seu cais
Para qualquer barco,
Naufragado ou não, que vem.

Infelizes aqueles que,
No meio de um Arco-Íris de neve estrelada
Se sentem sós e, a quem nós – os felizes –
Tentam levar de novo para a Estrada.

Felizes aqueles que lêem e escrevem
E que dão a ler e a escrever
Aos infelizes que nada têm
Ou não querem ter.

Se Deus existe,
Então escreve o seu Amor nos Arco-Íris.
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quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Luz Divina / Pai da Ciência (I)


Pai da Ciência (I)
Vasco Carvalho

Ó ciência,
Tu que sabes tudo e não sabes nada,
Tu que te situas até entre o nada e o tudo
E por vezes não sabes onde estás e onde vais.

Fruto do acaso, dos erros e do trabalho do homem,
Da matéria e antimatéria que se engolem.
Estás em todo o lado menos no que não vês,
Ou sentes, ou cheiras, ou ouves, ou saboreias.

Só Deus sabe o que está para além de ti
Pois só Deus vê o que tu não vês,
Pois de Deus tu és apenas umas simples meias,
Pois foi ele que te criou e teu deu um fim.

Ó Deus maléfico que deste um fim a tudo!
Ó Deus malvado que nos crias-te!
Ó Deus magnifico que nos ensinas-te a aprender!
Ó Deus maravilhoso que nos deixas sofrer e viver!
Quem te criou?

Desculpa Pai Nosso do Céu.
És mais que a ciência
Mas a ciência é o nosso véu.
Sem ela não há mais nada, nem mesmo nós,
E sem nós acabava Vós,
Pois deixava de haver gente a acreditar.
E sem nós nem a ciência existia quanto mais Tu!

Existes mesmo?
Fizeste o que fizeste?
(Silêncio…)
Tanto já sofri e sobre ti nada aprendi…
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quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Cozinheiro Campestre / Hoje estou farto de chorar


Hoje estou farto de chorar
Vasco Carvalho



Hoje estou farto de chorar!
Cebolas de um raio que,
Para além de irem para o refogado,
Nos deixam com lágrimas a escorrer
Cara abaixo, tal ensaio de teatro.

Mas para bom sabedor basta saber que,
Antes de uma bondade de Deus,
Vem sempre primeiro uma desgraça
E que, antes de Satanás pôr diabos seus,
Que trabalham quem nem escravos,
Qual matança de animais,
A dilacerarem sonhos reais,
Vem sempre primeiro a graça
Seguida de sofrimento
Pois depois é tarde demais.

Isto apenas para sintetizar,
Que todo o trabalho que se tem com o jantar,
Acaba por se ter prazer
Depois de se comer.
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terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Abraço / Brinquedo de Criança


Brinquedo de Criança
Vasco Carvalho


Há uma criança que de criança
Tem um brinquedo que a amansa
Quando está agitada.

Um brinquedo que ela ama,
Que ela chama quando sonha mal
E que lhe trás calma.

Um dia roubam-lhe o brinquedo
E ela na sua inocência não sabe porquê.
Sofrendo, chora até à lágrima que não se vê.

Todos os dias tristes são de saudade.
“Mal dormistes criança” pois há um vazio,
Em pelo menos metade da criança,
Que a deixa desconfortável e com frio.

Frio não de febre,
Mas de falta de calor do brinquedo
E só há uma coisa que quebre
Esta infelicidade do “acordar cedo”
E não ter brinquedo para brincar.

Essa coisa é outro bom amigo
Que a faça sentir-se bem consigo
E a felicidade volta, vem,
Em qualquer momento que a criança vive,
Inocente de virtude, que brinquedo teve
E que era de si e de mais ninguém.
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sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Olhar em Frente Pegadas para Trás / Reanimação do meu ser




Reanimação do meu ser
Vasco Carvalho

Cansado da Vida e cansado de estudar
Visto o casaco e calço-me.
Comigo levo os óculos
Pois quero ver bem o que vou observar.

Esta Vale Figueira, que ainda há pouco
Era tão campestre, está cada vez
Mais urbana e cheia de nada…
Como um tronco de árvore ilustre mas oco.

Afasto-me do urbanismo e vou,
Com calma, para uma zona aberta
Com luz e silêncio, zona mais secreta,
E minh’alma acalma aquilo que sou.

Enquanto ando calmamente
Fumo um cigarro que, embora
Mau é bom e vem em boa hora.
“Não há filosofia que valha um cigarro!”

O mundo devia ser todo assim:
Com sons melódicos da Natureza.
Os carros como a água, sem “chinfrim”,
Na estrada, tal rio com a sua correnteza.

À vinda, subo para cima de um muro
Elevando-me do Mundo,
Para respirar o ar dos Deuses.
Ar simples e puro.

Caminho sozinho em cima do betão
Pois, aquele momento tinha que ser
Só meu e para mim, porque senão,
Podia morrer o meu ser.
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terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Pirâmide do Louvre de Dentro / Este estado de espírito tira-me a capacidade de aprender

Este estado de espírito tira-me a capacidade de aprender
Vasco Carvalho

Este estado de espírito tira-me a capacidade de aprender.
O estado de quando percebo o que sou,
Mas não percebo o meu ser.

A minha essência fica para trás,
Esquecida na base da pirâmide de valores,
Pois o que sou apunhala o meu ser por trás.

O que sou é aquilo que sinto.
O meu ser é como lido com o momento.
Podia esquecê-lo com um bom tinto
Mas enquanto sofro, aprendo.
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quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Caminho da Luz / Caminhos

Caminhos
Vasco Carvalho

Valerá a pena perder tempo com o que se procura?
O sentimento de incerteza perdura e gasta-se o tempo.
E a falta de tempo não tem cura.

Quanto mais procuro felicidade menos encontro
E esta não se vende, por isso não compro.
Deixo de procurar e gasto o meu tempo de outra forma
E para isso não há norma, há apenas liberdade.

Procuro então não procurar felicidade,
Mas sim liberdade
Para poder escolher, como sempre quis,
De que forma vou ser feliz.
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sábado, 6 de janeiro de 2007

Sol Esperança / Frio tristeza, Calor esperança


Frio tristeza, Calor esperança
Vasco Carvalho


Saio para a rua
E sinto um ar frio de indiferença
Na minha cara nua.
Esfria o ar quente de respiração,
Tirando-me calor e esperança,
Arrefecendo o meu coração.

Estou triste de Outono
De desfazamento puro.
A minha vida não bate certo
Tanto como uma folha que
Cai para o chão duro

No pouco céu azul que vejo
Ainda apalpo a esperança
E cheiro o desejo
De voltar a ser criança.

E o Sol que brilha
E me aquece e dá crença
É a minha pilha da esperança.
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