segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

Gato Preto / Gato “Azarento da Nª Sra. da Sorte” Preto



Gato “Azarento da Nª Sra. da Sorte” Preto
Vasco Carvalho


O maravilhoso intolerável sistema
De um simples gato preto complexo
Está em, sendo gato do azar,
Dar sorte quando calha
E azar quando não calha a sorte.

Sorte do gato que sendo preto,
Se vê mal de noite.
Azar de nós
Que só vemos bem de dia.
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quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Sorte Suicida / Azar Efémero


Azar Efémero
Vasco Carvalho
Azar efémero
Não sei se é real.
O contrário da sorte
Vem sempre por mal.

Mal de quem?
Não se sabe bem,
Nem nunca se soube nem saberá.
O que há é uma dor que nos corrói,
Que nos dói e que nos faz sofrer.

Azar? Qual azar?
Sorte? Qual sorte?
Situações que vêm por calhar,
Que não nos dão norte, nem sul,
Nem o raio de o parta!
Que só vêm atrapalhar quem ri
Do azar dos outros e da sorte de si!

Sorte de quem nasceu,
Azar de quem tenha nascido.
Sorte de quem Morreu,
Azar de quem tenha morrido.
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quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

JF Memórias / Menino da sua Mãe




Menino da sua Mãe
Fernando Pessoa
~
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
-Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.
~
Raia-lhe a farda o sangue
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
~
Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe».
~
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
~
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
~
Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece")
Jaz morto, e apodrece,
O menino de sua mãe.
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O unico poema que não é meu. Decidi postar esta foto com este poema porque 'ele' foi a unica coisa que pensei quando o li. merece até uma reflexão:

A sua morte fez sentido? Não, para mim não.

Mas a pergunta que deve ser feita não é esta. É uma pergunta que suprime a última até ao mais infimo ponto do Universo.

A sua vida fez sentido? Sim, para mim fez todo o sentido!

É esta a pergunta que, com resposta se completa.

domingo, 10 de dezembro de 2006

Medo / Medo de Morrer



Medo de Morrer
Vasco Carvalho

Quem tem medo de morrer
É cuidadoso na sua maneira de ser,
Cuidadoso nas suas acções
Tentado não ferir corações,
Pelo menos o seu.
Chega ao ponto de parecer idoso e doente,
Incapaz de se mexer, e prende-se
Nessa sua maneira de ser.

Tenta ao máximo não sofrer
Tendo cuidado com quem anda,
Com tudo o que se possa mexer.
Fica com a “mania da perseguição”
Porque quem manda
É a sua cabeça e não coração.

Esquece-se ou desconhece-se
Que o tão rejeitado sofrimento
É um suplemento da aprendizagem,
Porque também aprendemos a viver
Em qualquer passagem que implique sofrer.

Viver sem sofrer não é viver,
Mas também não é morrer.
É simplesmente não-viver
E sem viver não há morrer.

Quem tem medo de morrer não morre
Mas também não vive,
Pois é a sofrer que se nasce
E a viver que se morre.
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