quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

JF Memórias / Menino da sua Mãe




Menino da sua Mãe
Fernando Pessoa
~
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
-Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.
~
Raia-lhe a farda o sangue
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
~
Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe».
~
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
~
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
~
Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece")
Jaz morto, e apodrece,
O menino de sua mãe.
@@@
O unico poema que não é meu. Decidi postar esta foto com este poema porque 'ele' foi a unica coisa que pensei quando o li. merece até uma reflexão:

A sua morte fez sentido? Não, para mim não.

Mas a pergunta que deve ser feita não é esta. É uma pergunta que suprime a última até ao mais infimo ponto do Universo.

A sua vida fez sentido? Sim, para mim fez todo o sentido!

É esta a pergunta que, com resposta se completa.

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