sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O Aventureiro

Tu és incrível!
Ainda agora o conheces-te
E já estás em cima dele.

E eu,
O mal amado,
Tu simplesmente pisas-me
Como um cigarro mal apagado.

Mas já não sofro por amor se é isso que pensas.
Sofro, porque tu ligas às aparências.

Não consegues, nem abraçar um amigo,
Porque pensas que ele pensa que eu sou o inimigo.

Atirei-me à doença
Sem saber da cura.
Sofro,
Porque me meti à aventura.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Vertigem / Vertigem Horizontal



Vertigem Horizontal
Vasco Carvalho

O tempo é curto
Quando à que passar obstáculos
E, por vezes, queremos ser surtos
Porque olhamos para trás
E vemos os espectáculos
E memoráveis minutos
Que gastámos a divertir
E que nos tornam grandiosamente minúsculos,
E isso já não dá vontade de rir.

Agora estamos sérios
Porque nos divertimos
Quando não devíamos.
Fomos muito aéreos.
(E nem assas teríamos
Se não fosse Deus).

Primeiro há que olhar para a frente do tempo
Fazer sacrifícios e ver passar minutos seus,
Mesmo que aí o tempo seja lento.

Mas é tarde de mais
E uma vertigem Horizontal
Leva-nos a tonturas tais,
Rodopios daquele memorial,
E nos faz agarrar no nosso ultimo apoio:
A nossa cabeça,
Que bate de seguida num chão saloio,
Chão de esperança.
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terça-feira, 22 de maio de 2007

Fado das águas / Situação






Situação
Vasco Carvalho

Situação:
A inspiração oferece.

Ou é porque o poeta entristece
Ou porque padece de inspiração.

Ao que parece,
Um poema escreve bem
Quando está triste
Ou quando carece,
Quando não tem
E para ter, insiste
Na sua falta de inspiração
Só para poder escrever
No meio de um “tudo-não”
Que o faz entristecer.

Pode fingir ser feliz
Mas é triste
Escrever por tristeza
Ou por vazio,
E mesmo sendo triste
Quem nisso insiste
Liberta a alma
E acalma
E relaxa,
Como quem marcha
Para o Paraíso
Sem dor
Sem aviso
Que no grande tribunal vai depor.

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domingo, 29 de abril de 2007

Luz da Sabedoria / Coisas sem sentido


Coisas sem sentido
Vasco Carvalho

Coisas sem sentido:
O Universo sem infinito,
Uma revolução sem um grito,
Mesmo que seja interior
Sem pudor e sem tumor.

São apenas dois
Estes exemplos de coisas sem sentido
E para saber isto
Não é preciso ter o ouvido desentupido,
Pois isto lê-se quando é escrito.
Até em Braille para os cegos
E escusam de ficarem presos nos vossos egos
Ler é também aprender
E se há gente que pensa que sabe
Que tudo sabe engana-se,
E por se enganar esta raiva
De dentro de mim emana-se.

E essa é mais uma coisa sem sentido
Pensar que se sabe tudo sobre tudo
E quando se engana faz-se de querido
E mete o rabo entre as pernas.

É suposto o mundo não fazer sentido,
Pois no dia em que fizer é porque sabemos tudo.

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quarta-feira, 18 de abril de 2007

Desenho de cara / Fome

Fome
Vasco Carvalho

Cara Fria, cara magra,
Cara de quem passa fome.
Se tem fome não come.
Se não come não vive.
Se não vive some.
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quarta-feira, 11 de abril de 2007

Lógica / Palpar o Impalpavél


Palpar o Impalpável
Vasco Carvalho

A mestre das ciências é a matemática
E a matemática é a mais abstracta.
Ora, não é a ciência que trata da existência,
Do ser de existir ou não pretende ser?

Não tenho paciência.
Muito menos para o abstracto,
Muito menos agora!
Quero ver as coisas como elas são
Sem impacto.

Afinal os números não existem,
Não são matéria, nem energia
E há quem diga que é como magia.
E eu só queria dormir em paz um dia.
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quarta-feira, 4 de abril de 2007

Passo a Passo / Rei da inocência


Rei da inocência
Vasco Carvalho

Parto para a viagem,
Para longe de casa,
Para outra paragem,
Para longe destes problemas,
Para mais perto de outros problemas.

Sinto-me feliz
E cheio de liberdade,
Como um petiz
De tenra idade
E muita inocência
Que lhe dá felicidade.

Mas esta minha liberdade
Não vem da inocência
Porque até sou um rapaz de cidade
E para a inocência,
Às vezes não há paciência!

Não há mas devia haver,
Porque ser inocente é ser Rei
E ser dono do que se quer,
Tudo a fugir a lei
Mas não há cá criminalidade para ninguém!
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terça-feira, 3 de abril de 2007

Vista desfonada e nocturna do Cais do Cais-do-Sodré / Más Visões




Más Visões
Vasco Carvalho

Que diferença fazem uns óculos.
Basta pô-los na cara
E vêm-se muitos mais pormenores
Como o preço de uma casa cara
No alto duma janela fechada com estores.

Detalhes que não se viam.
Dantes era tudo turvo e depois,
Com a lentes limpas,
Palavras que não se liam
Já nem precisam de o fazer.

Fica tudo tão claro
E reparo que, mesmo assim,
Há momentos em que mais vale
Não ter óculos para não ver.

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segunda-feira, 2 de abril de 2007

Muralha / Eu Perdoo


Eu Perdoo
Vasco Carvalho

Pede desculpa.
Magoas-te me, sabias?
Parece que não sabes
Nem pensas-te que podias
Como se o que tu sentes
Fosse mais importante
Do que “aquilo-que-achas-que-eu-sinto” por ti.
Isso, para mim, não é amizade.

Define-me amizade.
Pesquisa sobre o tema
Tal como eu fiz para saber
Se podia dizer que estava a sofrer
Ou se devia calar-me e massacrar-me.
Depois percebe porque me dói.

Pede desculpa
Que eu perdoo.
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Estranho / Estranho




Estranho
Vasco Carvalho

O que é que é estranho?
Tudo, para mim.
Só por ser castanho,
Amarelo ou anil,
Ser quadrado
Ou ter a forma de um funil.

Mas o que é que é normal?
Nada o é!
É tudo anormal.
Isso é que é!

Até a física se confunde
Com coisas que parecem normais
Como gelo que se funde
Em bebidas tais.

Até isso é estranho…

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quarta-feira, 7 de março de 2007

Abre-Portas / Algum Dador...


Algum dador…
Vasco Carvalho

Cá estou eu na minha normalidade,
Sozinho com esta diária conformidade
De que me sinto anormal
Ainda que muito normal seja.

O meu corpo anseia e deseja
Por outro corpo.
Mas não é um corpo qualquer:
Apenas o corpo que eu quiser.

E há algo em mim que,
Querendo ficar acompanhado
Fica ainda mais sozinho
Do que aquilo que tinha esperado.

E sonhado…

Sou um pequeno monstro
Dentro da minha maravilhosa pessoa.

Um monstro zangado e com fome,
Que afugenta até aquilo que come,
Ou deseja comer,
E deixa fugir o seu alimento que o faz fluir
Na vida e no amor.

Sou um horror solitário,
Um negro no solário,
Uma borbulha de acne vislumbrante
Numa cara linda, bonita, dislumbrante.

Sentindo-me sozinho
Preciso de alguém que me dê um bocadinho
De si para mim
Para eu ser diferente.
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segunda-feira, 5 de março de 2007

Buraco Negro / Preciso


Preciso
Vasco Carvalho

Brrr… Frio.
Doente de nada
Apesar da dor de garganta.

É me difícil falar
E cantar.
Centro a minha fuga no tocar
E no escrever quando me apetecer.

Faltam-me horas à vida
Que ainda não vieram.
Falta-me aquilo que mereço.

Será que mereço?

O meu coração diz que sim
E o meu corpo também
E, ainda assim,
Nada tenho que me contente
Apenas a caneta e o papel
E a guitarra.
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terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Poluição / Poluído



Poluído
Vasco Carvalho

Merda para isto tudo que não é nada!
Se fosse alguma coisa…
Que o é mas não é nada de jeito,
Nem sei o que é.
Só sei que é poluição e mais nada.

E como limpar coisa alguma
Que não sei o que é?
Não sei, e continuo assim:
Desolado, sozinho, coisa nenhuma.

Que tristeza!
Que desgraça!
Mas porque raio é que estou aqui
E assim e vazio como uma praça
Às tantas da manhã?
Mas que manha!

Que se lixe o buraco do ozono!
O meu buraco é bem mais grave!
Um buraco no vazio
Que nem sei se tem solução.
Pior que o vento de Outono,
Só me causa entraves
No que tenho de fazer!
Tira-me o desejo e faz-me perder!

Eu só queria perceber!
Como…
O quê…
Quem…
Onde está…
Quem me dará…
Quem me dera…

Qual “Fogo que arde sem se ver”?
Este vejo eu bem, não com os olhos
Mas com as mãos, e continuo sem perceber.

Até me faz virar contra quem gosto!

E o barulho…
Mesmo o silêncio é insuportável!
Quem me dera sair deste entulho
De porcaria insustentável.

Maravilha o que eu tenho…
Não me faz sentir bem…
Sem…
Cem ou mil ou infinito!
Mas de quê?
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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Olhos Verdes / Ardor


Ardor
Vasco Carvalho

Ardor nos olhos sinto.
Não minto, mesmo parecendo
Porque mesmo sofrendo escrevo.

Vi pouco hoje, devido ao ardor,
Essa dor que vem da falta de dormir,
Por eu não me permitir descansar.

Não, porque não gosto de dormir.
Prefiro rir acordado, viver,
Do que acordar e pensar ter sonhado
Sonhos ainda por viver.

Mas também faz mal descansar pouco
E louco é aquele que tem ardor de olhos
Aos molhos, todos os dias, por querer viver,
Deixando de ver como a vida pode ser vivida.
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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Olho de Deus, Olho que Tudo Vê / Presente Cristão



Presente Cristão
Vasco Carvalho

Num mundo de cepticismo
Como o do presente
Não podemos olhar o católico cristianismo
Como se vê desde sempre.

Cada milagre tem uma história,
Cada história uma moralidade,
Tal como em contos de infância e glória
Em que o heróis é a verdade.

O herói é Jesus Cristo
E os seus milagres são contos,
Cada qual com a sua lição, e com isto,
Quem as pratica recebe pontos.

Os pontos são felicidade e uma vida melhor
Não depois da morte mas agora em vida.
É dar amor e ser um bom senhor
Tal como Jesus um grande homem, nascido duma mãe querida.

Acima de tudo, à que ver Jesus Cristo,
Não como um personagem irreal
Mas como um grande homem, um ideal,
Um Portugal no mundial a ser seguido, visto.

Não é ir a missa que faz de nós cristãos.
Ser cristão é saber a mensagem
E mais que proclamá-la, é praticá-la
Em qualquer passagem, com as nossas mãos.

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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Passa Tempo Passa / E o Sol brilhará




E o Sol brilhará!
Vasco Carvalho


Hoje o dia está triste.
Há um vazio em tudo.
Um vazio de tudo
E tu Sol, sucumbiste.

Às vezes era bom não ter nada
Para não ter mesmo nada a perder
Mas assim também não se tem a ganhar.
Mas à que continuar a caminhar.

A vida é imprevisível,
E agora posso estar a sofrer
Mas Amanhã sei que vou aprender.
Aí, as melhoras serão visíveis.

O tempo passará,
Eu, talvez, ensinar,
O tempo a melhorar
E o Sol brilhará!

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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Banco de Jardim / Sentem-se




Sentem-se
Vasco Carvalho


Nas pessoas deposita-se amizade
Como num banco de jardim nos sentamos:
Se ele estiver limpo, sentamos;
Se ele tiver sujidade,
Ou limpamos porque queremos sentar
Ou procuramos um mais limpo para não trabalhar.

Não ficamos para sempre no banco
Mas quando vamos embora
A nossa marca fica marcando
A nossa posição no banco
E ele no nosso pensamento.

E se o conforto nos agradar
Podemos voltar a sentar
Vezes e vezes sem conta
Até o mundo chegar a sua ponta final.

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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Ponte 25 de Abril / Ponte Salazar


Ponte Salazar
Vasco Carvalho

O 25 de Abril trouxe-nos liberdade.
E tu, ó ponte que esse nome deténs,
Desse nome nada tens,
Pois à que pagar para chegar a grande cidade.

Devias chamar-te o teu nome primitivo:
Ponte Salazar;
Pois, para te atravessar,
É preciso pagar um significativo
Da não liberdade,
Tal como no tempo de ditador.

É esta a tua liberdade Portugal?
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sábado, 10 de fevereiro de 2007

Quadro de Ciências / Pai da Ciência (II)


Pai da Ciência (II)
Vasco Carvalho
Tudo em nós é Ciência!
Até no mundo da indulgência,
Pois ela está nos sentidos:
A Física tem os olhos e os ouvidos;
A Química, os cheiros, os sabores e os sentires;
A Biologia o corpo todo, um pouco de tudo;
A Geologia, quando já fosseis somos;
A Matemática é a de todas as matérias.
Por tanto é de todas a maior e mais séria.

O sexto sentido é a Fé que o tem.
A Fé pode ter Ciência
Mas a Ciência não tem Fé.
Pois a Fé não se sente, nem cheira, nem de saboreia, nem se escuta, nem se vê.
A Fé apenas depende do estado de espírito
E existe através do saber “A”, “B” ou “C”.

Quem é pela Fé,
O é porque é.
Quem é pela Ciência
É porque sente, cheira, saboreia, escuta ou vê
E não acredita em mais nada a não ser isso.
Mas não é por isso
Que não se possa ser pelas duas.

Pai do Céu,
Só existes porque há ciência
Porque, mesmo sem te ver, cheirar, saborear, ouvir ou sentir
A Ciência dúvida da tua existência
E existes por ela te perguntar.
E por ela te perguntar acaba por te criar
E passa a haver gente a acreditar.
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terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Nuvens Pintadas de Arco-Íris / Dar Amor


Dar Amor
Vasco Carvalho


Quem dorme para a vida
Vive para a morte,
E quem sonha acordado,
Se morrer, tem pouca sorte.

Felizes aqueles que vivem
Para viver mais e mais.
E vivem dando espaço no seu cais
Para qualquer barco,
Naufragado ou não, que vem.

Infelizes aqueles que,
No meio de um Arco-Íris de neve estrelada
Se sentem sós e, a quem nós – os felizes –
Tentam levar de novo para a Estrada.

Felizes aqueles que lêem e escrevem
E que dão a ler e a escrever
Aos infelizes que nada têm
Ou não querem ter.

Se Deus existe,
Então escreve o seu Amor nos Arco-Íris.
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quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Luz Divina / Pai da Ciência (I)


Pai da Ciência (I)
Vasco Carvalho

Ó ciência,
Tu que sabes tudo e não sabes nada,
Tu que te situas até entre o nada e o tudo
E por vezes não sabes onde estás e onde vais.

Fruto do acaso, dos erros e do trabalho do homem,
Da matéria e antimatéria que se engolem.
Estás em todo o lado menos no que não vês,
Ou sentes, ou cheiras, ou ouves, ou saboreias.

Só Deus sabe o que está para além de ti
Pois só Deus vê o que tu não vês,
Pois de Deus tu és apenas umas simples meias,
Pois foi ele que te criou e teu deu um fim.

Ó Deus maléfico que deste um fim a tudo!
Ó Deus malvado que nos crias-te!
Ó Deus magnifico que nos ensinas-te a aprender!
Ó Deus maravilhoso que nos deixas sofrer e viver!
Quem te criou?

Desculpa Pai Nosso do Céu.
És mais que a ciência
Mas a ciência é o nosso véu.
Sem ela não há mais nada, nem mesmo nós,
E sem nós acabava Vós,
Pois deixava de haver gente a acreditar.
E sem nós nem a ciência existia quanto mais Tu!

Existes mesmo?
Fizeste o que fizeste?
(Silêncio…)
Tanto já sofri e sobre ti nada aprendi…
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quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Cozinheiro Campestre / Hoje estou farto de chorar


Hoje estou farto de chorar
Vasco Carvalho



Hoje estou farto de chorar!
Cebolas de um raio que,
Para além de irem para o refogado,
Nos deixam com lágrimas a escorrer
Cara abaixo, tal ensaio de teatro.

Mas para bom sabedor basta saber que,
Antes de uma bondade de Deus,
Vem sempre primeiro uma desgraça
E que, antes de Satanás pôr diabos seus,
Que trabalham quem nem escravos,
Qual matança de animais,
A dilacerarem sonhos reais,
Vem sempre primeiro a graça
Seguida de sofrimento
Pois depois é tarde demais.

Isto apenas para sintetizar,
Que todo o trabalho que se tem com o jantar,
Acaba por se ter prazer
Depois de se comer.
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terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Abraço / Brinquedo de Criança


Brinquedo de Criança
Vasco Carvalho


Há uma criança que de criança
Tem um brinquedo que a amansa
Quando está agitada.

Um brinquedo que ela ama,
Que ela chama quando sonha mal
E que lhe trás calma.

Um dia roubam-lhe o brinquedo
E ela na sua inocência não sabe porquê.
Sofrendo, chora até à lágrima que não se vê.

Todos os dias tristes são de saudade.
“Mal dormistes criança” pois há um vazio,
Em pelo menos metade da criança,
Que a deixa desconfortável e com frio.

Frio não de febre,
Mas de falta de calor do brinquedo
E só há uma coisa que quebre
Esta infelicidade do “acordar cedo”
E não ter brinquedo para brincar.

Essa coisa é outro bom amigo
Que a faça sentir-se bem consigo
E a felicidade volta, vem,
Em qualquer momento que a criança vive,
Inocente de virtude, que brinquedo teve
E que era de si e de mais ninguém.
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sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Olhar em Frente Pegadas para Trás / Reanimação do meu ser




Reanimação do meu ser
Vasco Carvalho

Cansado da Vida e cansado de estudar
Visto o casaco e calço-me.
Comigo levo os óculos
Pois quero ver bem o que vou observar.

Esta Vale Figueira, que ainda há pouco
Era tão campestre, está cada vez
Mais urbana e cheia de nada…
Como um tronco de árvore ilustre mas oco.

Afasto-me do urbanismo e vou,
Com calma, para uma zona aberta
Com luz e silêncio, zona mais secreta,
E minh’alma acalma aquilo que sou.

Enquanto ando calmamente
Fumo um cigarro que, embora
Mau é bom e vem em boa hora.
“Não há filosofia que valha um cigarro!”

O mundo devia ser todo assim:
Com sons melódicos da Natureza.
Os carros como a água, sem “chinfrim”,
Na estrada, tal rio com a sua correnteza.

À vinda, subo para cima de um muro
Elevando-me do Mundo,
Para respirar o ar dos Deuses.
Ar simples e puro.

Caminho sozinho em cima do betão
Pois, aquele momento tinha que ser
Só meu e para mim, porque senão,
Podia morrer o meu ser.
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terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Pirâmide do Louvre de Dentro / Este estado de espírito tira-me a capacidade de aprender

Este estado de espírito tira-me a capacidade de aprender
Vasco Carvalho

Este estado de espírito tira-me a capacidade de aprender.
O estado de quando percebo o que sou,
Mas não percebo o meu ser.

A minha essência fica para trás,
Esquecida na base da pirâmide de valores,
Pois o que sou apunhala o meu ser por trás.

O que sou é aquilo que sinto.
O meu ser é como lido com o momento.
Podia esquecê-lo com um bom tinto
Mas enquanto sofro, aprendo.
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quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Caminho da Luz / Caminhos

Caminhos
Vasco Carvalho

Valerá a pena perder tempo com o que se procura?
O sentimento de incerteza perdura e gasta-se o tempo.
E a falta de tempo não tem cura.

Quanto mais procuro felicidade menos encontro
E esta não se vende, por isso não compro.
Deixo de procurar e gasto o meu tempo de outra forma
E para isso não há norma, há apenas liberdade.

Procuro então não procurar felicidade,
Mas sim liberdade
Para poder escolher, como sempre quis,
De que forma vou ser feliz.
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sábado, 6 de janeiro de 2007

Sol Esperança / Frio tristeza, Calor esperança


Frio tristeza, Calor esperança
Vasco Carvalho


Saio para a rua
E sinto um ar frio de indiferença
Na minha cara nua.
Esfria o ar quente de respiração,
Tirando-me calor e esperança,
Arrefecendo o meu coração.

Estou triste de Outono
De desfazamento puro.
A minha vida não bate certo
Tanto como uma folha que
Cai para o chão duro

No pouco céu azul que vejo
Ainda apalpo a esperança
E cheiro o desejo
De voltar a ser criança.

E o Sol que brilha
E me aquece e dá crença
É a minha pilha da esperança.
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segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

Gato Preto / Gato “Azarento da Nª Sra. da Sorte” Preto



Gato “Azarento da Nª Sra. da Sorte” Preto
Vasco Carvalho


O maravilhoso intolerável sistema
De um simples gato preto complexo
Está em, sendo gato do azar,
Dar sorte quando calha
E azar quando não calha a sorte.

Sorte do gato que sendo preto,
Se vê mal de noite.
Azar de nós
Que só vemos bem de dia.
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quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Sorte Suicida / Azar Efémero


Azar Efémero
Vasco Carvalho
Azar efémero
Não sei se é real.
O contrário da sorte
Vem sempre por mal.

Mal de quem?
Não se sabe bem,
Nem nunca se soube nem saberá.
O que há é uma dor que nos corrói,
Que nos dói e que nos faz sofrer.

Azar? Qual azar?
Sorte? Qual sorte?
Situações que vêm por calhar,
Que não nos dão norte, nem sul,
Nem o raio de o parta!
Que só vêm atrapalhar quem ri
Do azar dos outros e da sorte de si!

Sorte de quem nasceu,
Azar de quem tenha nascido.
Sorte de quem Morreu,
Azar de quem tenha morrido.
@@@

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

JF Memórias / Menino da sua Mãe




Menino da sua Mãe
Fernando Pessoa
~
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
-Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.
~
Raia-lhe a farda o sangue
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
~
Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe».
~
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
~
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
~
Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece")
Jaz morto, e apodrece,
O menino de sua mãe.
@@@
O unico poema que não é meu. Decidi postar esta foto com este poema porque 'ele' foi a unica coisa que pensei quando o li. merece até uma reflexão:

A sua morte fez sentido? Não, para mim não.

Mas a pergunta que deve ser feita não é esta. É uma pergunta que suprime a última até ao mais infimo ponto do Universo.

A sua vida fez sentido? Sim, para mim fez todo o sentido!

É esta a pergunta que, com resposta se completa.

domingo, 10 de dezembro de 2006

Medo / Medo de Morrer



Medo de Morrer
Vasco Carvalho

Quem tem medo de morrer
É cuidadoso na sua maneira de ser,
Cuidadoso nas suas acções
Tentado não ferir corações,
Pelo menos o seu.
Chega ao ponto de parecer idoso e doente,
Incapaz de se mexer, e prende-se
Nessa sua maneira de ser.

Tenta ao máximo não sofrer
Tendo cuidado com quem anda,
Com tudo o que se possa mexer.
Fica com a “mania da perseguição”
Porque quem manda
É a sua cabeça e não coração.

Esquece-se ou desconhece-se
Que o tão rejeitado sofrimento
É um suplemento da aprendizagem,
Porque também aprendemos a viver
Em qualquer passagem que implique sofrer.

Viver sem sofrer não é viver,
Mas também não é morrer.
É simplesmente não-viver
E sem viver não há morrer.

Quem tem medo de morrer não morre
Mas também não vive,
Pois é a sofrer que se nasce
E a viver que se morre.
@@@